Acórdão nº 06P1271 de Supremo Tribunal de Justiça (Portugal), 14 de Setembro de 2006
Magistrado Responsável | ALBERTO SOBRINHO |
Data da Resolução | 14 de Setembro de 2006 |
Emissor | Supremo Tribunal de Justiça (Portugal) |
Acordam no Supremo Tribunal de Justiça: I. Relatório AA, intentou a presente acção declarativa, com processo ordinário, contra SOCIEDADE DAS ÁGUAS …….. - ……., S.A.
, actualmente denominada ….., S.A., pedindo que seja: a- declarada nula e de nenhum efeito a rescisão do contrato feita pela R, por inexistência do respectivo fundamento; b- a R. condenada a pagar-lhe uma indemnização no valor total de 50.000.000$00, sendo 30.000.000$00 devidos a título de comissões não pagas desde 30.04.1996 até 30.10.1998, e 20.000.000$00 pelos danos que lhe foram causados pelo grave incumprimento, parte da R, das suas obrigações fixadas no contrato, a que devem acrescer os valores correspondentes às comissões vincendas até efectiva e legal resolução do contrato e respectivos juros de mora à taxa de 15% ao ano, devidos desde a citação da R até integral pagamento.
Para fundamentar esta sua pretensão invoca, no essencial, um contrato firmado com a ré, mediante o qual lhe foi concedida a comercialização, em exclusivo, dos produtos produzidos ou representados por esta, em determinada área geográfica, contrato que a ré rescindiu, ao fim de dez anos, sem qualquer fundamento.
Com base no valor dos investimentos efectuados para desenvolvimento deste contrato e no das comissões já vencidas e das que deixou de auferir fundamenta o montante do pedido de indemnização formulado.
Contestou a ré, alegando, em síntese, que nunca incumpriu qualquer das cláusulas do contrato celebrado com o autor e que foi este que faltou, de modo grave e reiterado, ao cumprimento das obrigações decorrentes desse contrato, desde desenvolver a sua actividade com inúmeras deficiências até distribuir produtos comercializados pela concorrência. E foi este incumprimento pelo autor das obrigações contratuais a que estava vinculado que legitimou a rescisão do contrato por si operada.
Com base no incumprimento pelo autor das suas obrigações, invoca a ré ter sofrido uma diminuição na venda dos seus produtos, prejuízo esse que calcula em 20.000.000$00, importância que, reconvencionalmente, reclama do autor.
E termina pedindo ainda a condenação do autor como litigante de má fé em indemnização não inferior a 1.000.000$00.
Replicou o autor para reafirmar a posição inicialmente defendida de que a ré rescindiu sem qualquer fundamento o contrato entre eles celebrado e termina pedindo, por sua vez, a condenação da ré como litigante de má fé em indemnização não inferior a 1.000.000$00.
Saneado o processo e fixados os factos que se consideraram assentes e os controvertidos, teve lugar, por fim, a audiência de discussão e julgamento.
Na sentença, subsequentemente proferida, foram a acção e reconvenção julgadas totalmente improcedentes, com a consequente absolvição da ré e autor dos respectivos pedidos.
Inconformados com o assim decidido, apelaram autor e ré, esta subordinadamente, mas sem êxito, porquanto o Tribunal da Relação de Lisboa, por acórdão de 11 de Outubro de 2005, confirmou a sentença recorrida.
De novo irresignados, recorrem autor e ré, esta ainda subordinadamente, pugnando pela revogação do acórdão recorrido e a atribuição da indemnização por cada um deles reclamada.
Contra-alegaram os recorridos em defesa da manutenção da improcedência dos pedidos contra cada um deles formulado.
*** Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir II. Âmbito do recurso A- De acordo com as conclusões, a rematar as respectivas alegações, o inconformismo dos recorrentes radica no seguinte: recurso do autor 1- Entende que não violou as obrigações que para si decorriam do contrato de fls….., pois não vendia e distribuía regularmente a referida água lisa, como a recorrida invocou.
2- O facto de ter comprado pontualmente aquela água lisa nunca poderia fundamentar a alegada resolução do contrato.
3- Por um lado, a recorrida deixara de engarrafar e produzir águas lisas e por outro, segundo o contrato de fls……, o recorrente apenas, e tão só, se obrigara a não vender qualquer água ou produto nacional ou estrangeiro, de igual natureza ou similar aos engarrafados e ou produzidos pela recorrida, i.é., não se vinculara a trabalhar em exclusivo com as mercadorias da recorrida.
4- A recorrida deixara de produzir a água lisa ……, e a única água lisa que tinha em carteira a ……era importada, não era por si nem engarrafada nem produzida.
5- Os fundamentos invocados pela recorrida na sua carta de fls. ……, não existiam, como ficou provado e, nesse sentido, é importante a resposta dada ao quesito 75°, que não concede a prova desses factos.
6- Na verdade, se tivesse ficado provado que o recorrente distribuía essa água lisa, o que não aconteceu, o Tribunal teria respondido provado e não que o recorrente havia pontualmente comprado tal água, atente-se que a pergunta era a de se saber se o recorrente vendia e distribuía regularmente essa água.
7- Dos factos provados não é possível concluir, como o fez o douto Tribunal "a quo" que o recorrente violou as obrigações a que se havia vinculado pelo contrato de fls.24, dando causa à sua resolução.
8- E seria, ainda, importante apreciar todo o contexto dos factos provados, para que se conhecesse uma eventual sanção para um simples incumprimento, que nem existiu, e nem se concede, o que também não foi feito, pois nem foram atendidas as questões envolventes à compra isolada daquela água.
9- Bem como a conduta da recorrida que em flagrante abuso de direito, pois não tendo água lisa sua para comercializar, veio posteriormente (seis meses depois de...
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO-
Acórdão nº 13/09.7TVPRT.P2.S1 de Supremo Tribunal de Justiça (Portugal), 08 de Maio de 2013
...Ac. STJ de 9.11.04, Proc. n° 4A2641, www.dqsi.pt; Ac. STJ de 5.6.2007, Proc. n° 07A1207, www.dgsi.pt; Ac. STJ de 14.9.2006, Proc. n° 06P1271, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Lisboa de 19.4.07, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Porto de 4.11.2003, Proc. n° 0220215, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Porto de 18.10.2004, Proc.......
-
Acórdão nº 7571/04.0TBOER.L2-8 de Court of Appeal of Lisbon (Portugal), 15 de Novembro de 2012
...são os chamados contratos de execução (…)”. Nestes casos (contratos atípicos), e conforme bem se refere no Ac. do STJ, processo n.º 06P1271 (relator Alberto Sobrinho e acessível em www.dgsi.pt), a regulamentação jurídica deste tipo de contratos encontra-se, desde logo, nas cláusulas negocia......
-
Acórdão nº 13/09.7TVPRT.P2.S1 de Supremo Tribunal de Justiça (Portugal), 08 de Maio de 2013
...Ac. STJ de 9.11.04, Proc. n° 4A2641, www.dqsi.pt; Ac. STJ de 5.6.2007, Proc. n° 07A1207, www.dgsi.pt; Ac. STJ de 14.9.2006, Proc. n° 06P1271, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Lisboa de 19.4.07, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Porto de 4.11.2003, Proc. n° 0220215, www.dgsi.pt; Ac. Rel. Porto de 18.10.2004, Proc.......
-
Acórdão nº 7571/04.0TBOER.L2-8 de Court of Appeal of Lisbon (Portugal), 15 de Novembro de 2012
...são os chamados contratos de execução (…)”. Nestes casos (contratos atípicos), e conforme bem se refere no Ac. do STJ, processo n.º 06P1271 (relator Alberto Sobrinho e acessível em www.dgsi.pt), a regulamentação jurídica deste tipo de contratos encontra-se, desde logo, nas cláusulas negocia......